quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Contos do arrebatamento - A sala de aula


Suas mãos estavam firmes no volante, o cheiro do orvalho se dissipando estava ainda no ar, ela respirou fundo e apertou ainda mais firme o volante do seu carro.
Mais um dia. Será que estou pronta? Os alunos mudaram tanto.
Clara Oswald olhou pela janela de seu utilitário e viu as crianças da sua vizinhança saírem alegrem em direção à escola escola do bairro.  Clara é professora do ensino médio em uma escola do centro da cidade.  E seus alunos são bem diferentes das crianças que agora ela via.  Sorridentes, animadas.
Depois de pensar em quão rápido seus anos de magistério passaram ela pensou - realmente a vida é como um sopro. Passa depressa demais.
Após ponderar por mais alguns minutos ela decidiu ir para mais um dia de trabalho. 
Girou a chave, trocou de marcha e pôs o carro a andar. Em dias normais ela gastava trinta minutos no trajeto de casa para o trabalho.  Pegou a avenida de costume mas viu que um acidente bloqueava o caminho.
Não Deus! Agora mais essa!
Respirou fundo e decidiu não entrar no vórtice de estresse mesmo antes de chegar em seu  trabalho.
Ao seu redor já começava o cacofonia de buzinas das mais variadas espécies provocadas por motoristas sem paciência. Algumas pessoas já desciam dos seus ônibus e decidiram fazer a pé o restante de seus percursos.  Passados vinte minutos os trânsito começou a fluir e Clara pôde continuar seu caminho. 
Ela passo pelo local do acidente e viu que um carro havia atingido a lateral de uma motocicleta.  O carro estava no lado da avenida, próximo à moto que estava toda retorcida. No chão ela viu pequeno fragmentos de vidro, provavelmente oriundos do carro. 
Clara levou quase o dobro do tempo normal para chegar na escola onde trabalhava.
Saindo do carro, no estacionamento da escola algumas crianças que eram seus alunos no ano passado lhe cumprimentaram.
- Bom dia professora Clara. 
- Oh! Bom dia crianças!
Um garoto que estava no grupo disse -  a senhora está atrasada.
- Sim, nem fale. - Clara franziu o cenho e lançou -  Ora, vocês também estão!
As crianças sorriram e caminharam ao lado de sua ex professora até a entrada da escola. 
As crianças seguiram para a direita e Clara para a esquerda. 
Ela andou rapidamente em direção à sala dos professores onde pegaria parte de seu material para a aula do dia. 
Já com o material em mãos e consciente de seu atraso ela deu uma corrida em direção de sua sala de aula. 
Já não existiam crianças no corredor. Somente Clara estava ainda fora de sala, todos seus colegas já haviam começado suas aulas. 
Ela segurou firme a maçaneta de sua sala a e entrou.
Estava uma grande confusão bolinhas de papel sendo lançadas, adolescentes sentados em cima das carteiras. E alguém havia pego um dos pincéis e rabiscado o quadro branco. 
- Bom dia! Todos sentados!
As vozes diminuíram e os alunos começaram a tomar seus lugares. 
- Me desculpem. Me atrasei pois aconteceu um acidente horrível que me deixou presa.
- Tudo bem professora! - falou um aluno de do fundo - fique à vontade.
Clara apertou seu maxilar e olhou desconfiada para seu aluno.
- OK peguem seus livros. Página 42. A Primeira Guerra mundial.
A maioria dos alunos pegaram seus livros e abriram nas páginas indicadas pela professora. Porém, alguns alunos não fizeram isso é continuaram em suas conversar.
- Vocês podem abrir seus livros?
Os alunos começaram a rir e um disse -  Não!
O que fez os demais rirem ainda mais alto.
Com o rosto ruborizado Clara olhou para os alunos.
- Obedeçam. Ou levarei vocês à diretoria!
- Tanto faz -  Respondeu novamente o aluno é colocou as mãos segurando a sua nuca. Desafiando Clara.
Contrariados os alunos do fundo pegaram seus livros e abriram na página ordenada.
- O estopim da Grande Guerra, foi a morte do 
Príncipe herdeiro da Áustria, Hungria e Bohemia o Arquiduque Franz Ferdinand. Em um atentado realizado pelo grupo separatista Mão Negra.
- Realmente a coisa ficou preta! -  O aluno falou -  e a turma pôs-se a rir.
Clara bateu no quadro pedindo silêncio.
- Já chega! O que você vem fazer na escola?
O aluno ficou olhando furioso enquanto Clara falava.
- Se você não está interessado em aprender imagino que os demais queiram.
Os demais alunos fizeram em coro -  uuuuu.
Clara levantou suas mãos pedido que eles parecem.
- Alex, não pense que nós professores querem o seu mal. Nós queremos lhe ajudar.  Mas parece que você mesmo não quer mudar.
- Não quero mesmo. -  Alex disse.  Clara ficou horrorizada.
- Você terá que deixar a sala.
- Eu não vou! - O rapaz disse depois bateu na mesa.
- Alex! -  Clara disse em voz alta.
- Chega. Eu disse para você...
Ela não chegou a terminar suas palavras.
Os alunos companheiros de Alex que estavam sorrindo. Rapidamente perderam totalmente o senso de humor. Pois eles viram sua professora se desmaterializar diante de toda a classe.  E ela não foi a única.  Junto com a Clara alguns alunos também sumiram.
E na sala por um momento reinou o silêncio.  Mas foi logo quebrado por gritos vindos de todas as salas da escola.

Nenhum comentário:

Postar um comentário